BARCELONA, o destino que não quer morrer de sucesso

BARCELONA, o destino que não quer morrer de sucesso

O ciclo de crescimento turístico da Espanha mostra-se imparável e já passada a ressaca da pandemia, de acordo com os últimos dados oficiais, o registro de visitantes estrangeiros no país bateu as 85 milhões de pessoas em 2023, cifra histórica recorde. E, como sempre foi, a região da Catalunha puxa este carro com 18 milhões de visitantes no ano passado, quase todos concentrados na sua capital, seguida das regiões autónomas das Ilhas Baleares e das Ilhas Canárias, cada uma com cerca de 14 milhões de turistas.

 

E como Barcelona lida com tantos visitantes? A massificação turística já é realmente um problema para a cidade? Como as autoridades e instituições governamentais atuam para evitar um colapso desta fórmula de sucesso? E quais são as iniciativas locais de representantes do setor privado para driblar a saturação do mercado?

 

Há muito que se fala de controlar os fluxos turísticos em mega destinos como Veneza, Roma ou Barcelona. A prefeitura da cidade catalã já provou várias medidas de contenção do impacto do turismo massivo, como a tentativa de descentralizar os atrativos turísticos, coisa que se mostrou pouco eficiente. Promociona-se bairros alternativos, edifícios e museus únicos mais longe do Centro, restaurantes ditos imperdíveis fora do circuito turístico, porém todo turista que chega à Barcelona obviamente não quer perder a vista da deslumbrante catedral da Sagrada Família do gênio Antoni Gaudí. E tampouco o estádio Camp Nou do Barça, nem as famosas Las Ramblas no bairro Gótico…

Outras medidas, mais de base, têm se mostrado contudo imprescindíveis para os residentes locais que já sofrem com o elevado custo de vida, como o controle dos preços de aluguel e a redução de concessão das licenças de apartamentos turísticos. Ambas exemplos de políticas levadas a cabo pelo último governo municipal durante os 8 anos do mandato da ex-prefeita Ada Colau. A cidade de Barcelona é hoje muito mais consciente de que sim é essencial acolher o visitante nacional ou estrangeiro de maneira profissional mas é necessário também educar este turista fazendo-o entender as peculiaridades e limites físicos e sociais da cidade. 

E para falar da iniciativa privada, eis alguns exemplos de projetos locais que mostram uma Barcelona real e autêntica, menos óbvia e também um pouco “diferentona”, para um visitante curioso e ávido por conhecer como realmente vivem as pessoas nesta cidade tão atrativa. E ainda, que ideias locais de base sustentável e responsável com as pessoas e o meio ambiente sim fazem a diferença.

yök Casa + Cultura são apartamentos turísticos eco-boutique localizados bem no Centro da cidade, pertinho do Arco do Triunfo. Conta com 3 apartamentos e uma recepção com vistas espetaculares num edifício de 1900, tudo renovado ecologicamente pela hotelier catalã Mari Marañís há 10 anos atrás. Ela transformou uma antiga propriedade de mais de 200 metros quadrados em 3 práticos e belíssimos apartamentos turísticos, mantendo elementos únicos como os pisos de azulejos de mais de 100 anos, pé-direito alto e janelões de madeira originais recuperados que dão a sacadas charmosas, sem esquecer de toda a comodidade para uma estadia de luxo. Mas Mari dá ênfase à totalidade da experiência turística do visitante, ela quer ajudar ao hóspede a viver a cidade como ela é de verdade, conversando com cada pessoa que visita, dando dicas autênticas e fazendo com que essa pessoa volte para a sua casa com um ideia diferente daquela Barcelona hiper conhecida e milhões de vezes fotografada.

Proposta muito parecida fica clara também nos roteiros a pé para conhecer os diferentes bairros barceloneses do projeto Barcelona Plan·it, da mão do guia brasileiro Sandro Madeira, apaixonado pela cidade e já há 20 anos na Espanha. A ideia é percorrer Barcelona com um olhar fora da caixinha, porém sem perder de vista aquela igreja gótica incrível, os edifícios modernistas (o art-nouveau catalão) e as ruas mais charmosas. Os passeios se dividem por zonas e são privativos e personalizados, sem pressa (super slow travel!) e visam sobretudo fazer os visitantes entenderem a vida das pessoas em Barcelona e conhecerem histórias curiosas do passado e do presente desta cidade medieval, vanguardista e moderna, ao mesmo tempo. Sandro dá também grande destaque à gastronomia, fazendo várias paradas para degustar e conhecer pequenas e grandes delícias da culinária espanhola-catalã. É uma maneira de fugir das massas de turistas que percorrem sempre os mesmos exatos caminhos no Centro saturando as infra-estruturas, o comércio e “disneyficando” a vida local.

E voltando à gastronomia catalã pode-se fazer uma lista grande, pois a cidade oferece desde vários restaurantes estrelados Michelin a botequins de tapas centenários e mercados municipais coloridos em cada bairro. E entre uma coisa e outra há uma infinidade de pequenos negócios gastronômicos criativos como restaurantes que resgatam receitas antigas perdidas, que usam produtos orgânicos da região e que contam histórias pessoais através de seus pratos. Vários projetos interessantes, locais e responsáveis podem ser encontrados por exemplo na guia gastronômica da associação Slow Food de Barcelona. Custa 10€ e tem desde barzinhos e restaurantes, lojinhas gourmet a gelaterias, na cidade de Barcelona e arredores. Vale muito à pena para organizar a agenda e se inspirar! 

 Vivemos em todos os efeitos um auge econômico do Turismo à escala global, em que quase todos os países do mundo se beneficiam, ou melhor dito podem se beneficiar, de multidões de turistas que aproveitam as facilidades da mobilidade aérea pós-moderna, coisa antes reservada às elites. A grande questão é saber gerir um negócio turístico de forma a multiplicar os benefícios no destino de forma equitativa e responsável. 

O Instituto Aupaba é uma entidade não governamental, sem fins lucrativos, fundada por membros da sociedade civil que atuam interdisciplinarmente e orientados para um futuro mais próspero, justo e consciente. Registre-se também na rede do Instituto Aupaba.

Aupaba, originária da língua tupi-guarani, expressa o significado de “Terra de Origem”, simbolizando nossa visão do ideal de aprimoramento socialambiental e cultural do território. Para nós, o Turismo vai além de considerações econômicas, sendo um instrumento de transformação social.

  • Agradecemos imensamente a Dorian D1 por esta linda imagem que ilustra a capa (via Unsplash).
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